Conhecendo a Surdocegueira

25/06/2021
Foto: mão aberta com palma para cima e a mão de outra pessoa fechada sobre ela.
Foto: mão aberta com palma para cima e a mão de outra pessoa fechada sobre ela.

A surdocegueira não é simplesmente a "soma" entre não ouvir e não enxergar. 

Apesar de avanços tecnológicos e das mídias, a surdocegueira ainda é uma deficiência pouco conhecida em suas necessidades comunicacionais. 

Neste artigo vamos conversar um pouco sobre as características gerais da surdocegueira e como podemos auxiliar, afinal temos a tendência de nos afastar por não saber como agir por isso precisamos ter informações que nos auxilie a ser mais inclusivos em nosso dia a dia.

A surdocegueira, também chamada de "perda sensorial dupla" ou "comprometimento multissensorial" é o conjunto simultâneo de perda ou comprometimento auditivo e visual. 

Isso afeta significativamente a comunicação, a socialização, a mobilidade e a vida diária dos indivíduos com essa condição.

​A expressão surdocegueira entrou em uso pela primeira vez nos anos de 1990 como um substituto para "surdos e cegos" por ser uma denominação é mais apropriada para definir a condição como uma deficiência única e bastante complexa.

Há pessoas que podem ser totalmente surdas e cegas ou apresentar resíduos auditivos e/ou visuais. 

O sujeito pode ter cegueira e baixa audição; 

surdez profunda e baixa visão; 

baixa visão e audição ou ter cegueira e surdez profundas.

 Vale ressaltar que, mesmo com a presença de resíduos (auditivo e/ou visual), o indivíduo pode ser considerado uma pessoa com surdocegueira. 

Isso acontece quando não se consegue compensar a perda visual com o resíduo auditivo, ou o contrário, a perda auditiva com o resíduo visual.


CLASSIFICAÇÃO GERAL

A surdocegueira pode ser classificada como:​

  • Surdocegueira congênita: É a condição daquele indivíduo que nasce surdocego ou adquire a surdocegueira em tenra idade, antes da aquisição de uma língua. Dependendo do nível de perda auditiva ou visual e de outros fatores, como outras deficiências, pode afetar bastante as habilidades de comunicação e os cuidados básicos.
  • Surdocegueira adquirida: É a condição daquela pessoa que ficou surdocega após a aquisição de uma língua, seja esta oral ou sinalizada.

FORMAS DE COMUNICAÇÃO

Para desenvolver sua própria forma de comunicação, uma pessoa surdocega precisa utilizar seus sentidos remanescentes como olfato, paladar e tato, além de usar (se tiver) seus resíduos auditivos e visuais. 

O período em que aconteceu a perda da audição e da visão também é importante, como por exemplo, uma criança com esta condição no início do seu desenvolvimento, pode ter dificuldades ou atrasos para entender o que está acontecendo ao seu redor.

 Isso significa que a surdocegueira pode afetar no processo linguístico e outras áreas do desenvolvimento como comunicação, mobilidade e aprendizagem, portanto quanto mais cedo for diagnosticada e receber a estimulação adequada, melhor.

Entre algumas formas de comunicação dos surdocegos podemos destacar:

mãos sinalizando em língua de sinais em contato com outras mãos
mãos sinalizando em língua de sinais em contato com outras mãos
  • Libras Tátil:  É realizada com a mão do interlocutor e por sua vez interpretados pelas mãos do surdocego fluente em Língua de Sinais;

configuração de mão em letra R sendo tocada por outra mão
configuração de mão em letra R sendo tocada por outra mão

ALFABETO DACTICOLÓGICO

 Trata-se do alfabeto manual utilizado pelas pessoas surdas. Apenas no caso da surdocegueira que esse alfabeto é adaptado para a versão tátil.

Foto Helen Keller tocando o rosto de outro mulher
Foto Helen Keller tocando o rosto de outro mulher
Tadoma: Comunicação em que o surdocego coloca uma das mãos no rosto (maxilar, boca, bochecha) e pescoço do falante para sentir a vibração da voz e assim conseguir interpretar;


Orientações importantes

  • Sempre anuncie sua presença com um simples toque, você pode combinar um sinal específico para ser identificado.
  • Aprenda e use qualquer que seja o método de comunicação que ele saiba. Se houver um método, conheça-o, mesmo que elementar.
  • Para aqueles que têm resíduos auditivos é importante encorajá-los a usar a fala se conseguirem, mesmo que eles saibam apenas algumas palavras.
  • Comunique sempre o contexto. se houver outras pessoas presentes, avise-o quando for apropriado para ele falar.
  • Informe-o sempre de quando você vai sair, mesmo que seja por um curto espaço de tempo. Assegure-se que ele fique confortável e em segurança. Se não estiver, vai precisar de algo para se apoiar durante a sua ausência. Coloque a mão dele no que servirá de apoio. Nunca o deixe sozinho em um ambiente que não lhe seja familiar.
  • Ao andar deixe-o apoiar-se no seu braço, nunca o empurre à sua frente.
  • Utilize sinais simples para avisá-lo da presença de escadas, uma porta ou um carro.
  • Mesmo com o guia intérprete, dirija-se à pessoa surdocega diretamente.

E na Escola? 

A Inclusão de um estudante com surdogegueira é bastante complexa e a necessidade de acessibilidade a todo conteúdo é fundamental; 

"Nesse contexto, os profissionais de apoio (professor especializado, terapeuta, psicólogo etc.), os intérpretes (no caso da criança surda, responsáveis pela interpretação das informações orais em língua de sinais) e guias-intérpretes (no caso da criança surdocega, responsáveis pela orientação da criança na sala de aula e no espaço escolar e pelas informações veiculadas no ambiente escolar), assumem o papel de professores de ensino, funcionando como conselheiros no processo individual de aprendizagem. 

A sequência, bem como a relação entre método e conteúdo serão definidos pelo professor de sala. No entanto, é importante que a tomada de decisões relativas ao trabalho a ser desenvolvido com a criança em sala de aula seja assumida por toda a equipe de profissionais envolvidos no processo educacional. 

Os professores da sala de aula e de recursos procuram adequar as atividades e o ambiente para favorecer o processo de inclusão da criança surdocega, buscando: 

  • definir quais são os meios simbólicos utilizados pela criança surdocega para se comunicar (pistas, objetos de referência etc); 
  • garantir que o ambiente esteja organizado e adaptado para reais necessidades da criança surdocega; 
  • auxiliar e encorajar a criança surdocega a manipular os objetos e explorar novos ambientes; 
  • verificar se os materiais estão adaptados, com contrastes, cores e texturas para que a criança consiga identificá-los; 
  • construir com o professor da sala de aula o calendário de atividades e o livro de comunicação; 
  •  verificar se a iluminação da sala de aula é adequada ou se é necessário uma adaptação."

Fonte: Nascimento, Fátima Ali Abdalah Abdel Cader Educação Educação infantil ; saberes e práticas da inclusão : dificuldades de comunicação e sinalização : surdocegueira/múltipla deficiência sensorial. [4. ed.] Acesse o material completo abaixo:

Saberes e Práticas de Inclusão - Dificuldades de comunicação Surdocegueira e múltipla deficiência
Saberes e Práticas de Inclusão - Dificuldades de comunicação Surdocegueira e múltipla deficiência

Dia 27 de Junho - Dia Internacional da Surdocegueira

Foto: Helen Keller lendo livro em Braille com aponta dos dedos
Foto: Helen Keller lendo livro em Braille com aponta dos dedos

No dia 27 de junho, é comemorado o Dia Internacional das Pessoas Surdocegas. 

A data foi escolhida por ser o nascimento da norte-americana Helen Keller, que sem poder enxergar ou ouvir, foi alfabetizada por sua professora Anne Sullivan, através da língua de sinais tátil. 

Helen foi a primeira pessoa surdocega no mundo a conquistar um bacharelado. 

Foi também escritora, conferencista, ativista social norte-americana e defensora dos direitos das pessoas com deficiência.

A data tem como objetivo dar mais visibilidade na sociedade, estimular ações educativas de conscientização e esclarecimento, promover debates sobre políticas públicas, sensibilizar todos os setores da sociedade, combater qualquer forma de discriminação e informar os avanços técnico-científicos relacionados à prevenção, educação e inclusão social da pessoa com surdocegueira.


Informação e conhecimento são as bases de uma sociedade mais inclusiva.

Espero você em nossos próximos artigos!

Profª Fabiana Leme