Cultura maker e inclusão. Um mundo de possibilidades 3d

29/06/2021
Foto: Modelo de Esqueleto de um réptil em plástico colorido
Foto: Modelo de Esqueleto de um réptil em plástico colorido

A cultura maker é entendida pelas ações do faça você mesmo

Do inglês, do it yourself (DiY), o que entendemos hoje como cultura maker nasce de modo mais estruturado em 2001, com o estadunidense Neil Gershenfeld, quando diretor do Center of Bits and Atoms, do MIT.

Motivado pela necessidade de resolver problemas de ordem tecnológica cada vez mais multidisciplinares, encarando-os como um processo e de modo mais rápido, criou uma disciplina chamada "How to make (almost) everything", algo traduzido livremente como, "Como fazer (quase) todas as coisas"

Esta forma inaugurada pelo professor Neil da construção e transmissão de conhecimento dão os primeiros passos do que atualmente chamamos e ainda estamos construindo os conceitos da cultura e dos espaços maker. 

Mas vamos com calma...o que isso tudo tem a ver com educação

E com a inclusão em sala de aula

É fácil de entender. Vamos ponto a ponto desenvolver este raciocínio.

A cultura Maker não é só tecnológica

Foto: Montagem utilizando 5 colunas de números de 1 à 6 escritos em papel e colados nas elevações da caixa de ovo grande.
Foto: Montagem utilizando 5 colunas de números de 1 à 6 escritos em papel e colados nas elevações da caixa de ovo grande.

Professores e professoras, sempre realizaram suas próprias construções pedagógicas artesanais. 

Muitos são os exemplos de recursos educacionais desenvolvidos a partir de currículos ou de necessidade específicas dos estudantes e desenvolvimentos do dia a dia da rotina escolar.

Por outro lado, a entrada de elementos tecnológicos apoiam ainda mais estas produções artesanais. 

E neste ponto a cultura maker pode contribuir muito com a rotina de produção de recursos pedagógicos com o que chamamos de fabricação digital.


A fabricação digital é definida como a utilização de máquinas que produzem coisas. 

Uma impressora 3d ou uma pistola de cola quente são máquinas que podem ser consideradas do universo maker.

 Para fechar esta equação basta pensarmos então que professores que fazem, em algum momento, parte de seus recursos educacionais utilizando algum processo de fabricação digital, assim, se aproximam em alguma medida da cultura maker.

O grande segredo desta equação é que quando utilizamos recursos digitais a capacidade de compartilhar arquivos faz com que possamos democratizar e tenhamos acesso a uma inacreditável quantidade de materiais experimentados no mundo inteiro.

 É fácil de entender.

 Assim como vemos e ouvimos vídeos abertos no youtube, ouvimos uma música no Deezer e consultamos e praticamos receitas culinárias em sites específicos, podemos acessar e adaptar materiais que outros professores tenham realizado em qualquer lugar do planeta.

Antes disso, não nos furtamos de abordar que são pouquíssimas as escolas que possuem uma impressora 3d, por exemplo. 

Por que? 

Acredito que você deva ter a resposta na ponta da língua, não é mesmo?

- Porque é caro! E aqui está um grande equívoco. 

Atualmente, uma impressora 3d para uso em sala de aula custa o mesmo que um aparelho celular da ordem de R$1.200 a R$1.500,00. (dados de junho de 2021)

Então podemos buscar arquivos na internet, produzir e utilizar materiais para práticas de geografia com a temática dos vulcões? 

Sim. Da mesma forma podemos buscar materiais específicos da educação especial, avaliá-los, adaptá-los artesanalmente com cores e texturas e utilizá-los em nossas práticas escolares incluindo as ações da educação especial.

Vamos ver um exemplo¹ desta temática a seguir desenvolvida pelo autor:

¹ Este e outros exemplos estão detalhados no último capítulo do livro "O mundo em 3d" do autor do artigo.

Foto: mãos segurando estrutura com 3 hastes azuis em uma base verde.
Foto: mãos segurando estrutura com 3 hastes azuis em uma base verde.

O exemplo do aparelho reprodutor feminino

O produto desse material pedagógico foi o resultado de um complexo processo humano e tecnológico estabelecido, cocriado e apoiado pelas práticas que ocorreram no Laboratório de Inovação Cidadã, realizado em Rosário, Argentina, em 2018.

O caso ocorreu na Escuela LIDIA ELSA ROUSSELLE, de Rosário, Argentina para crianças com deficiência visual. Foram envolvidas inicialmente e diretamente 3 professoras, como as profissionais AEEs (Atendimento Educacional Especializado) no Brasil, e o material, após criado e desenvolvido, foi levado às crianças com e sem deficiência visual.


O ponto crucial para o sucesso do protótipo do material pedagógico foi a definição de fabricação digital a partir do conteúdo curricular escolhido pelas próprias professoras, ou seja, uma escolha reflexiva e assertiva de identificação e interpretação da modelagem do material, no caso o aparelho reprodutor feminino. 

O primeiro ponto foi verificar quais materiais já existiam disponíveis na internet para download. 

Foto: Modelo plástico que reproduz ilustração 2D do sistema reprodutor feminino
Foto: Modelo plástico que reproduz ilustração 2D do sistema reprodutor feminino

Foi constatado que o único material existente era este apresentado na figura a seguir, e concluiu-se que o material era uma representação 2,5D (uma placa com elevações) e não apoiava a compreensão completa de aprendizagens. 

Como esse caminho de download foi inviabilizado, a etapa seguinte foi a capacitação das professoras em aprender modelagem básica para que criassem seu material de autoria própria. 

O percurso foi de concepção do modelo, modelagem digital, impressão em menores formatos, testes com professora cega e alunos com baixa visão, aprimoramento e, por fim, compartilhamento.

Foto: 2 modelos do sistema reprodutor feminino em 3D
Foto: 2 modelos do sistema reprodutor feminino em 3D
Foto: prof. Renato apresenta o modelo 3D do sistema reprodutor feminino a um menino, ambos estão de óculos.
Foto: prof. Renato apresenta o modelo 3D do sistema reprodutor feminino a um menino, ambos estão de óculos.

Este projeto está disponível na internet para você conhecer e usar como quiser em sua rotina educativa. 

Este é o presente (ou o futuro, interprete como queira) da utilização de recursos tecnológicos em sala de aula. 

Como exposto, propõe enfaticamente não desprezar as importantes habilidades manuais potencialmente utilizadas pelos professores, e adicionalmente, apoiadas por meios digitais de modo inteligente e democrático.


Renato Frosch

É professor universitário em cursos de graduação e pós-graduação. Autor do livro "O mundo em 3d: produção de recursos pedagógicos inclusivos"

Doutor em educação, mestre em engenharia e promotor de projetos de inovação no Brasil e na América Latina

Depois de muitas experiências e amadurecimentos acadêmicos, sociais e tecnológicos, escrevi o livro "O mundo em 3d: Produção de Recursos pedagógicos inclusivos, pela Encontrografia Editora 

O livro trata de materiais pedagógicos e impressão 3d, uma mistura de minha trajetória na pesquisa em educação e na inclusão.

Saiba mais sobre a publicação em: https://www.egrafialivros.com.br/educacao/o-mundo-em-3d-producao-de-recursos-pedagogicos-inclusivos



Convite especial: Venha Assistir a esse Bate-Papo Incrível!